03/06/2020

Teoria Eugenista

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

            Interessante perceber o quão a sociedade é exclusivista, obviamente era muito mais, entretanto, estamos tendo um retrocesso por faltar justamente o discernimento histórico, pois já afirmava George Santayna, que "aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-los" ou Edmund Burke quando dizia que "aqueles que não conhecem a história estão fadados a repeti-la".

            Dando continuidade a fala de George Santayna, "o progresso, longe de consistir em mudança, depende da capacidade de retenção"[1] ou seja, precisamos aprender com o passado e assim, não cometermos os mesmos equívocos.

            De acordo com a superabril.com, o problema de memória é algo que acompanha o ser humano, e nossa atual conjuntura tem demonstrado isso, através de movimentos neonazistas ressaltando assim um racismo idiota e uma supremacia branca, que a meu ver, se limita a uma verdadeira imbecilidade.

            De acordo com o documentário Eugenia - A Higienização do Brasil[2], nosso país foi o último a aderir a abolição, e temos uma triste marca, a de maior importador de escravos negros no mundo, pois foram mais de 4 milhões de vidas e sonhos roubados em um período de três séculos.

            A abolição ao invés de ajudar nossos negros que já faziam parte de nossa nação, ela simplesmente os excluiu, pois foi omissa em políticas de integração social e o negro liberto, não tinha mais onde buscar recursos para sua sobrevivência.

            Tínhamos uma população de negros liberta, porém privados de dignidade e humanismo.

            Observe que nossa população negra e parda continua sendo privada do mínimo para manter a sua dignidade, já que movimentos na própria instituição que deveria defender não apenas a história, a cultura e os direitos do negro, simplesmente se cala e oferece selo contra racismo para racistas não serem mal vistos na sociedade, como foi feito pela instituição Fundação dos Palmares.

            O documentário supracitado ressalta ainda que o Brasil na década de 1920, teve o maior partido nazista do mundo fora da Alemanha, ou seja, nesta época o governo flertava com o fascismo e o nazismo, e hoje este romance doentio está voltando a ascender em nosso país.

            Como se não bastasse, o negro humilhado como escravo e ainda mais humilhado como liberto, foi ainda vítima nos anos citados acima, por meio de uma higienização, denominada de Eugenia, justamente para mostrar sem fundamento científico que a raça branca era superior à negra.

            Acreditando na pseudociência da Eugenia (racismo disfarçado de ciência) fundamentada em propostas científicas, políticas e culturais, "pseudocientistas" buscavam as condições mais favoráveis para a evolução da espécie. Observe que isso não era mérito apenas da Alemanha de Adolf Hitler, o maior genocida de nosso tempo.

            O Brasil pregava o paradigma da normalidade, ou seja, tudo que era diferente era visto como anormal, e assim, o país se afundou no preconceito com as pessoas com Necessidades Especiais e/ou com suas especificidades, além de ter como tendão de aquiles o negro, já que era a visão que mais incomodava o país.

            O racismo era tão gritante e banalizado que a própria constituição de 1934 reforçou a eugenia, que significa "bem nascido". Este termo retrata a um estudo de agentes sob controle social com o intuito de melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações, tanto física quanto mentalmente.

            Rocha[3] em seu artigo Educação eugenica na constituição brasileira de 1934, publicado pela X Anped Sul,  Florianópolis, outubro de 2014, informa que o Boletim de Eugenia afirmava que apenas através da educação e de condições favoráveis é que seriam introduzidas mudanças favoráveis e sem a "boa herança" os efeitos da educação não seriam possíveis, ou seja, a grosso modo não adiantaria educar o negro, já que este não tinha a "boa herança".

            Observe que o Boletim de Eugenia mais uma vez reforçava o paradigma da normalidade, ou seja, o "cidadão bem nascido" ou a "boa herança".

            Vale lembrar que o termo eugenia foi trabalhado por Francis Galton (1822 - 1911) e segundo Gioppo[4] no seu artigo Eugenia: a higiene como estratégia de segregação, publicado em 1996, Galton desconsiderou as condições materiais concretas que contribuíam com o desenvolvimento do indivíduo.

            Galton observou que filhos de médicos e advogados bem sucedidos seguiam as mesmas carreiras e eram tão promissores quanto os pais, e segundo Gioppo citada acima, foi com a radicalização desta teoria que a eugenia teve força, pois para Galton quanto mais pura a raça, mais forte e melhor ela será.

            Gioppo ressalta que o pensamento Eugenico foi nada mais nada menos que um pensamento segregador implicando a sociedade em uma limpeza social.

            Assim sendo, pode-se perceber que estamos tendendo a cometer os mesmos erros de nosso passado obscuro, mas a sorte é que temos educadores conscientes de que a educação deve refutar qualquer conceito que fomente crendices e preconceitos de qualquer natureza, pois o intuito da mesma é ser libertadora e protagônica.

 

[2] Para mais informações vide https://www.youtube.com/watch?v=_0bvG177IXg

[3] Para mais informações vide http://xanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1305-1.pdf

[4] Para mais informações vide GIOPPO, Christiane. Eugenia: a higiene como estratégia de segregação. Educ. rev.,  Curitiba ,  n. 12, p. 167-180,  Dec.  1996 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40601996000100015&lng=en&nrm=iso>. access on  02  June  2020.  https://doi.org/10.1590/0104-4060.167.

 

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