08/06/2020

Tolerância Passiva

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

            Realmente encontramo-nos em um mundo globalizado e, o que acontece em um país distante do nosso, respinga e aguça discussões por aqui.

            Peguemos como exemplo o caso de George Floyd, um americano morto pela ação truculenta e arbitrária da polícia, e através de manifestações como a de movimento Black Lives Matter fizeram valer o braço da lei, prendendo os policiais envolvidos nesta barbárie.

            Em contrapartida, no Brasil o racismo é gritante, algumas vezes é explícito e outras camuflado com uma tolerância passiva, corroborado por Karnal[1], quando ressalta que esta tolerância é uma forma culpada, disfarçada e envergonhada de ser intolerante, já que a pessoa aceita "os diferentes" desde que não fiquem por perto, dito isso, observe que é um ato covarde, pois o preconceito existe e é camuflado por esta suposta tolerância.

            Obviamente que para estes policiais serem presos, houve protestos, manifestações e ações de pessoas que se preocupam com o humanismo, a principio sem cunho ideológico ou político, apenas voltado pelo direito a vida, independente raça, credo, ideologias, etc.

            Enquanto que o movimento Black Lives Matter tem voz nos EUA, aqui no Brasil, a Fundação Cultural Palmares que fazendo uma analogia com a instituição americana deveria ter o mesmo foco, todavia, temos na verdade como presidente, desta fundação, um negro racista, que afirma ser o movimento negro uma "escória maldita", e assim, as arbitrariedades com os negros vão apenas virando estatísticas negativas e argumentos estultos de verdadeiros (as) néscios como o caso de uma blogueira com mais de 50 mil seguidores no instagram[2], que usando de alegações preconceituosos, ressalta o quanto é imbecil a sua fala ao afirmar que o racismo "é natural” e se trata de um “instinto de defesa da gente”, no caso, a pessoa se referiu aos que se dizem brancos.

            E para piorar, como se não bastasse esta imbecilidade, esta mulher afirma que “o racismo sempre vai existir enquanto a maioria dos crimes forem (sic) causados pela população negra”[3].

            Triste é saber que esta influencer ao invés de usar seu canal para instruir o público e tentar erradicar o racismo ou qualquer outra forma de discriminação, ela usa para justificar o seu preconceito camuflado com a tolerância passiva mencionada acima.

            Pensamentos assim são comuns em nossa sociedade. Pessoas que se dizem esclarecidas, mas na verdade não passam de imbecis, apesar desta possuir o título de "Coach" e ser "entendida" do conceito sobre "Equilíbrio Emocional".

            Pode perceber o quão desequilibrada é esta infeliz ao gravar um vídeo ressaltando o seu preconceito e sua frase hipócrita afirmando que “Para mim, felicidade seria quando minha mente começasse a ser livre de preconceitos”.

            Perceba que é uma linda frase, mas neste caso, sem sentido, pois a mesma foi formada apenas com palavras ao vento para ter cada vez mais seguidores para ouvirem ou lerem suas ideias preconceituosas.

            Observe que assim está nossa sociedade, hipócrita e preconceituosa, mas que através da educação, conseguiremos quebrar esta tradição elucidada por Karnal[4] ao afirmar que o julgamento pela melanina tem uma tradição de mais de 388 anos no Brasil e isso faz esta tradição ser forte e sólida em nossa sociedade.

            As falas de Chinoy em seu livro Sociedade: Uma introdução à sociologia, publicado pela Cultrix em  2006, enfatiza que pessoas preconceituosas são, muitas vezes, resistentes a mudanças, mesmo ressaltando as provas mais concludentes de falsidade dos supostos fatos aos quais suas atitudes são ancoradas.

            O que esta "influencer" e o presidente da Fundação Cultural Palmares têm feito é um desserviço a sociedade por "desconhecerem" as falas de Ribeiro em seu livro Política: quem manda, por que manda e como manda, publicado pela Nova Fronteira em 1998, ao afirmar que o preconceito não é algo nato do ser humano, ele é aprendido socialmente e desta forma, passa a ter o seu comportamento influenciado.

            Dito isso, que a educação faça cumprir o seu papel em esclarecer ao máximo seus alunos para que estes se sintam livres das amarras do preconceito, o que é corroborado por Souza em seu livro Introdução a Sociologia da Educação, publicado pela Autêntica em 2007 ao afirmar que um dos objetivos básicos da autonomia intelectual está no uso da razão sobrepondo o preconceito.

            Tais falas podem ser complementadas por Goleman no seu livro Inteligência Emocional, publicado pela Objetiva Ltda em 1995. O autor afirma que o preconceito é visto como um aprendizado emocional ocorrido na mais tenra idade e isso o torna difícil erradicação.

            Por isso precisamos oferecer a nossos alunos uma educação protagônica, transformando nosso educando em um agente cognoscente e crítico, pois é afirmado por Freire em seu livro Educação e Mudança, publicado pela Paz e Terra em 1979, que quando o educando se transforma em um cidadão crítico e cognoscente, ele procura se livrar das amarras do preconceito. Freire complementam ao ressaltar que o preconceito é um conceito de forma precipitada e sem fundamento sério, implicando em erros e prejuízo, o que é corroborado por Karnal ao afirmar que é uma ofensa a razão e a racionalidade

            Que a educação então desenvolva em nossos educandos a lei e a ética, alavancando assim o tolerância ativa e o preconceito não seja aceito como desculpas para atos covardes, pois temos centenas e até milhares de "George Floyd" no Brasil, tendo a omissão da justiça e a sua miopia fazendo com que o fardo destas pessoas sempre reprimidas e excluídas se torne pesado demais.

 

[1] Para mais informações vide https://www.youtube.com/watch?v=uoOQ0Q9wxhY

[2] Para mais informações vide https://www.youtube.com/watch?v=PDlANh6oD14

[3] Para mais informações vide https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/video-racismo-e-natural-porque-pessoas-negras-sao-as-que-mais-cometem-crimes-diz-blogueira/

[4] Para mais informações vide https://www.youtube.com/watch?v=b6ruPq5Z0Pw

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