25/11/2016

Treinamento funcional para desenvolver performance no Judô

Treinamento Funcional para desenvolver performance no Judô

 

 

BARBIERI¹, Bruno; CORREIA, Davi Abreu; SANTOS, Diogo Amaral dos; ANDRADE, Juliano Ferreira de; RIBEIRO, Leandro da Silva;

ARRUDA², Eduardo Okuhara

 

 

 

.¹ Graduados do curso de Educação Física no Centro Universitário Ítalo Brasileiro – São Paulo – SP – Brasil (UniÍtalo).

 

 

² Mestre docente do curso de Educação Física no Centro Universitário Ítalo Brasileiro, São Paulo - SP - Brasil (UniÍtalo).

 

 

RESUMO

 

O presente artigo de revisão teórica busca esclarecer como melhorar a performance em atletas de Judô como o treinamento funcional com o foco na comparação entre o treinamento tradicional do Judô desde da arte marcial que se originou do estilo mortal de luta corporal dos antigos samurais, conhecido como Jujutsu. O artigo tem como foco a comprovação que o treinamento funcional pode ser uma ferramenta para auxiliar o desenvolvimento de performance no judô, tendo com base as referências encontradas nos livros e no sites do google acadêmico, Lilacs e Scielo. A partir das referências e discussões é possível chegar a algumas considerações finais que indicam que o treinamento funcional é uma ferramenta importante para desenvolver performance dos atletas.

Palavras-chaves: Judô, performance e treinamento funcional.

 

 

 

 

ABSTRACT

 

Keywords: Judo, performance and functional training.

 

 

INTRODUÇÃO

 

O treinamento funcional corresponde ao conjunto de exercícios praticados com a finalidade de preparação física ou aperfeiçoar as habilidades com propósitos específicos, geralmente reproduzindo ações motoras utilizadas na modalidade esportiva ou no seu cotidiano do praticante, com movimentos que mobilizam mais de um segmento ao mesmo tempo, podendo ser realizados em diferentes planos e envolver diferentes contrações musculares: concêntrica, excêntrica ou isométrica. Buscando sempre melhorar todos os componentes necessários para atingir um ótimo nível da função ou a ele retornar (MONTEIRO e EVANGELISTA, 2015).

Segundo Monteiro e Evangelista (2015), os treinamentos tradicionais são isolados, rígidos, limitados e segue somente uma linha (modelo). Já o treinamento funcional possuem exercícios integrados para atingir padrões de movimentos mais eficientes, aproximando dos movimentos reais realizados no cotidiano, atendendo a especificidade do esporte, gerando melhora no desempenho. O treinamento funcional é flexível e ilimitado, com um maior grau de liberdade de execução dos movimentos, com a realização em diferentes amplitudes e múltiplos planos, isso permite uma ótima eficiência neuromuscular.

O treinamento do judô teve a inspiração nos modelos dos antigos samurais, que praticavam um estilo de luta mortal conhecido como ju-jutsu (técnicas de ataque e defesa), que foram reformuladas por Jigoro Kano que era praticante e estudioso nas praticas corporais combate. A padronização de normas com a finalidade de tornar o aprendizado mais fácil, bem como o estabelecimento de regras para um confronto esportivo, tornando a atividade física deveria servir em primeiro lugar para a educação global dos praticantes (KANO, 2008).

Para compreender melhor o treinamento funcional e como pode influenciar na performance do Judô, é necessário buscar na Revisão Literária como os aspectos desse método de treinamento surgiram, suas adaptações fisiológicas e principais diferenças para o modelo tradicional. É necessário também entender como surgiu e como evoluiu modelo tradicional de treinamento do Judô e as características predominantes na modalidade. Este trabalho vem com o principal questionamento e busca com a Revisão Literária responder: Se o treinamento funcional realmente é uma ferramenta importante para desenvolver performance no Judô?

O treinamento funcional pode ser utilizado nas sessões de treinamento para provocar adaptações no organismo do atleta para que obtenha a forma esportiva exatamente no momento ou momentos mais importantes do calendário competitivo (ALMEIDA, 2002).

 

TREINAMENTO FUNCIONAL

 

A funcionalidade física do ser humano é testada desde a antiguidade e já foi questão de sobrevivência. Portanto, o treinamento funcional não é uma novidade. Na Grécia Antiga encontramos os Jogos Olímpicos, para melhoria da performance os atletas gregos desenvolveram equipamentos e métodos de treinamento específicos para superação de resultados. Esta prática, também foi aplicada na Roma Antiga, entre os gladiadores que obtiveram vantagens sobre seus adversários e muito se tornaram famosos. Então desde essa época já havia a necessidade de um treinamento especifico que auxiliasse na performance (SILVA, 2011).

Os profissionais envolvidos na área de reabilitação utilizam exercícios que os pacientes realizam no seu cotidiano, assim conseguem acelerar o retorno para a vida normal. Baseado no sucesso desse conceito passou a ser utilizada como estratégia de treinos pelos profissionais de Educação Física para melhora do desempenho dos atletas, quebrando alguns paradigmas dos treinamentos tradicionais, como por exemplo, num exercício de flexão de cotovelos com apoio no solo, é desenvolvido força, mas quando solicitamos o mesmo exercício numa superfície instável, conseguimos trabalhar força e equilíbrio (MONTEIRO e EVANGELISTA, 2015).

Hoje em dia, há um número elevado de sessões de treinamentos para os atletas de alto rendimento, que necessitam de um trabalho qualificado e especifico que possa garantir melhora nas habilidades esportivas e excelência na performance com eficiência neuromuscular, flexibilidade dinâmica e força, evitando ao máximo os excessos que possam levar a lesões, buscando com esse treinamento, os padrões de movimentos efetivos com a consciência corporal, controle da postura, movimentos de cadeia cinética fechada, estabilização e desenvolvimento da sinergia muscular (ZANELLA & AGUIAR, 2015 apud VRETAROS, 2016).

De acordo com Paul Check (2009 apud MONTEIRO e EVANGELISTA, 2015), o exercício só é considerado funcional se preencher seis requisitos: 1. Melhora de capacidades biomotoras relevantes (força, potência, resistência, flexibilidade, coordenação, equilíbrio, agilidade e velocidade); 2. Padrão de movimentos comparável a reflexos de endireitamento e equilíbrio; 3. Manutenção do centro de gravidade sobre sua base de suporte; 4. Compatibilidade com um programa motor generalizado; 5. Compatibilidade de cadeia aberta ou fechada; 6. Isolamento para integração. Esses aspectos apontados pelo autor realmente são encontrados dentro do treinamento funcional.

A metodologia do treinamento funcional que é direcionado aos esportes, tem como conceitos de especificidade e transferência, que envolve métodos complexos, visa buscar o gesto motor específicos da modalidade que se deseja treinar (SARGENTIM, 2013; TEIXEIRA & GUEDES JR, 2014; BOYLE, 2015 apud VRETAROS, 2016).    

Os profissionais de Educação Física necessitam ter um conhecimento sobre as diversas estratégias sensoriais das mais simples até as mais complexas, que é fator importantíssimo para adequar o treinamento para os iniciantes até alto rendimento com exercícios estáticos ou dinâmicos que estimule a execução do aluno, pois os diferentes sentidos são desafiados para que o corpo consiga manter o melhor controle neuromuscular ou estabilidade articular. Os exercícios funcionais procuram imitar situações reais do cotidiano, muitos movimentos são realizados em múltiplos planos, assim podem ser criados e modificados de acordo com os planos de movimento, com a variação dos planos pode contribuir para aumentar a demanda de controle, equilíbrio e a coordenação motora (MONTEIRO e EVANGELISTA, 2015).

Os movimentos voluntários e involuntários são controlados pelo sistema nervoso central, que controla os complexos circuitos visando à aprendizagem e elaboração dos movimentos. O córtex motor atua nos músculos para controlar a coordenação dos movimentos e estabilidade postural. A aprendizagem dos exercícios funcionais de ser forma qualitativa, com uma boa execução e caso haja necessidade, executar exercícios corretivos sendo considerados elementos-chave no treinamento (COOK, 2010 apud VRETAROS, 2016).  

Segundo Vretaros (2016), a conscientização de posicionamento e movimento articulares, velocidade e força aplicada durante os exercícios obtendo uma coordenação adequada são aprimoradas pelo sistema sensório-motor, com os fusos musculares e o órgão tendinoso de Golgi (OTG), que tem a finalidade da manutenção da sensibilidade do tendão muscular e evitar manobras bruscas que possa levar a lesão. É necessário no treinamento funcional ter atenção na fadiga muscular durante o trabalho proprioceptivo, sendo indicada sua utilização durante o aquecimento, seus exercícios específicos conseguem melhorar força, coordenação motora, equilíbrio e tempo de reação em diversas situações.

Segundo Duarte (2001, apud MONTEIRO e EVANGELISTA, 2015), a área delimitada pelas partes do corpo que estão em contato no chão e pela área interna formada por essas mesmas estruturas é denominada como base de suporte corporal. Sofremos oscilações devido às reações das forças geradas no próprio corpo ou por forças externas aplicadas sobre ele, então para manter o corpo em determinada posição é necessário uma constante regulação da postura em razão dessas perturbações. Os exercícios funcionais podem ser intensificados com a mudança nas bases de suporte, desde que seja adaptado para os diferentes níveis dos alunos.

Segundo Monteiro e Evangelista (2015), o centro de gravidade é entendido como o ponto em torno do qual um peso está igualmente distribuído em todas as direções em um objeto, sendo que o centro de massa corporal coincide com o centro de gravidade, pois a aceleração da gravidade tem o mesmo valor em toda extensão corporal, os exercícios funcionais exploram muito bem a variação do centro de massa, principalmente quando solicita que um exercício seja realizado de forma unilateral, assim faz que o corpo tenha dificuldade na estabilização, pois há um deslocamento do corpo em relação ao peso, onde é necessário fazer mais ajustes para se mantiver estável.  

Antes da iniciação no treinamento funcional é muito importante realizar uma avaliação postural para que seja observada a existência de distorções musculares, assim possibilita a prescrição de exercícios específicos voltados para minimizar essas alterações e permitir a máxima eficiência neuromuscular na realização dos exercícios, sabendo que os desvios posturais provocaram estresse, dor, lesões crônicas e disfunção articular (MONTEIRO e EVANGELISTA, 2015).

Segundo Ribeiro (2006), o treinamento funcional utiliza de alguns equipamentos e acessórios como: pesos livres de barras, anilhas e dumbells permitindo o trabalho com ativação intra e intermuscular das atividades que o individuo está treinando. As barras articuladas permite a execução em três planos de movimento exigindo estabilização tridimensional e oferecendo sobrecarga nos padrões de movimento. Os cabos e elásticos possibilitam o trabalho em diferentes ângulos e vetores de força, tornando o treino mais especifico e efetivo. Medicine balls são matérias versáteis e fabricadas em diferentes tamanhos, formatos, pesos e texturas, permite o movimento amplo promovendo força e potências, fortalecendo e aprimorando músculos estabilizadores, neutralizadores e primários. Superfícies instáveis como pranchas, discos, bolas, trampolins, diminuição da base de apoio durante a realização de um exercício que exigem um maior e melhor controle motor, ativando os proprioceptores e recrutando os estabilizadores do core, desenvolvendo o equilíbrio e aproximando o treinamento das exigências encontradas pelo indivíduo. As correntes e cordas trazendo vantagem nas diversas amplitudes do movimento. Alguns desses equipamentos têm o custo elevado, mas quando comparado com os equipamentos de musculação, o investimento é muito menor.

O treinamento da região denominada core é voltado para a qualidade de vida, saúde, melhora das dores nas costas e produção de força, esta região é constituída pelos os músculos abdominais, pelos para vertebrais, glúteos, diafragma e a cintura pélvica, são aproximadamente 29 músculos que se inserem no complexo lombo pélvico. O treinamento dessa região tem finalidade especifica, como a diminuição da compreensão intradiscal e das forças compressivas na coluna, também aumentar a estabilidade da coluna lombar, permitindo a manutenção de relações do comprimento-tensão de músculos agonistas e antagonistas, eficiência neuromuscular ótima em toda cadeia cinética, que facilita a aceleração, desaceleração e estabilização de toda cadeia muscular durante movimentos integrados e dinâmicos (MONTEIRO e EVANGELISTA, 2015).

Segundo Monteiro e Evangelista (2015), o treinamento do core deve respeitar o desenvolvimento do aluno de forma gradual ao qual melhorar sua capacidade de controle neuromuscular para a realização dos movimentos com segurança e eficiência. O nível de estabilização neuromuscular deve envolver exercícios isométricos ou com pouca mobilidade articular para melhorar prioritariamente a estabilização intrínseca e o controle neuromuscular do complexo lombo pélvico. O nível de força de estabilização envolve exercícios de contração concêntrica e excêntrica por meio de toda a amplitude do movimento numa superfície instável. O nível de força dinâmica é a fase de progressão na velocidade, especificidade e na demanda neural dos exercícios, com a eficiência neuromuscular de toda a cadeia cinética aumentada pelo provimento de uma estimulação proprioceptiva máxima ao Sistema Nervoso Central durante aos movimentos funcionais em que mantem ótima estabilização do complexo lombo pélvico. E o nível de força de reação é a fase em quais as atividades com progressões especificas, com ações musculares e velocidade de contração.

 

  •  

 

A busca pela a história do Judô vem para contextualizar com era o treinamento tradicional que originou a modalidade e após a sua reformulação o que mudou. Segundo Martins e Kanashiro (2010), o conceito da sociedade japonesa mudou muito com relação aos samurais em 1852, com a chegada dos barcos ingleses comandado pelo comodoro Perry, mostrou ao Japão a superioridade da tecnologia naval ocidental, isso ficou evidente na Rebelião de Satsuma, com um exército de 30 mil samurais conflitou o exército do imperador Meiji que foram treinados pelos ocidentais em 1877, quase todos os samurais morreram e marcou com fim da classe Samurai e o surgimento do novo Exército Imperial Japonês formado de conscritos independente da classe social, o que provou ser muito eficiente.

 Com a abolição dos samurais que perderam o prestigio dentro da sociedade japonesa, o estudioso Jigoro Kano do Ju jutsu reformula as técnicas e em 1882 na cidade de Tóquio no Japão, abriu própria escola, ao qual deu o nome de JUDÔ KODOKAN, está escola funciona até os dias de hoje. O nome JUDÔ tem um significado que é a principal filosofia da arte marcial, (JU – suavidade e DÔ – caminho), que fica como “caminho da suavidade”, destinada à formação e preparação integral do homem através do treinamento no dojo com as esteiras (tatames), com atividades físicas de luta corporal e do aperfeiçoamento moral sustentado pelos princípios filosóficos, regras, normas e exaltação do caráter, o treinamento dos métodos de ataque e defesa pode-se adquirir qualidades mais favoráveis, mas também deve contribuir de forma positiva para a sociedade (KANO, 2008).

Segundo Kano (2008), após a reformulação da arte marcial, o treinamento deixou de ser executado em espaços abertos, pois não tinha mais a necessidade de se preparar para os combates no campo ou florestas, passando a ser executado em espaços fechados e foi ligado a Educação no Japão, utilizado nas grades curriculares da Educação Física, o que foi bem aceito pela sociedade japonesa e consequentemente se espalhou pelo mundo. Segundo Shinohara (2002, apud CARVALHO e DRIGO, 2007), o judô possui métodos que visam à aquisição de habilidades técnicas e táticas com as repetições das técnicas (uchi-komi), treinamento de projeções (nague-ai), luta sem resistência (yaku-soku-geiko), prática de ataques contínuos (kakari-geiko), luta de treinamento (randori), competição (shiai), sequencias de técnicas de ataque e defesa (katas), treinamento de sombra ou solitário (tendoku-renshu), treinamento de contra-ataque (kaeshi-waza-renshu), treinamento de sequencia de técnicas (renraku-renka-waza-renshu). O judô possui sequencias pedagógicas que facilitam a aprendizagem dos golpes, que é o Go-Kyo, sendo o conjunto de 40 técnicas de projeções, que estão subdivididas em 5 grupos de 8 técnicas cada, que são requisitos obrigatório para o exame de graduação para adquirir a faixa preta.

O Judô é uma modalidade esportiva que tem suas características especificas da modalidade, sendo um esporte de luta, onde os atletas participam com uma vestimenta própria para modalidade que é conhecida como judogui ou kimono. A cor tradicional do kimono é branca, por aspectos filosóficos desde os antigos samurais que usavam por de baixo das armaduras um tecido de cor branca, que significava que estavam dispostos a lutarem até a morte, após a reformulação, passou a ser considerado para os atletas fazerem o seu melhor durante as lutas (KANO, 2008).

A modalidade é caracterizada como um esporte intermitente e de alta intensidade, onde a solicitação durante o esforço pode ser pelo metabolismo anaeróbico e aeróbio, sendo que podemos observar nas simulações de lutas a contribuição via anaeróbica lática. O metabolismo aeróbio responde rapidamente a demanda energética do exercício, com um papel importante também em esforços máximos de curta duração. Os judocas mais treinados aerobiamente apresentam maior recuperação nos intervalos das lutas, que pode contribuir para manter maior intensidade durante a luta e no controle do processo de fadiga. (DETANICO, 2014).

O treinamento de judô normalmente são realizados no dojo com tatames, que são feitos de espuma prensada, para absorver o impacto das quedas, com a finalidade de derrubar o adversário com as costas por completo no tatame, a fim de conseguir o Ippon (golpe perfeito), caso não ocorra o Ippon na parte em pé (tachi waza), pode também ocorrer na parte de chão (ne waza), quando um judoca imobiliza o outro por 20 segundos com as costas no tatame, ou com a finalização do adversário através de técnicas de estrangulamento ou chaves de braço. Todo vocabulário utilizado, durante uma aula de Judô, é em japonês, incluindo os comandos, nomes das técnicas e pontuações (FOFONKA, 2016).

Segundo Baptista (2003), as capacidades físicas predominantes nesta modalidade são: Equilíbrio estático com posicionamento para saudações ou quando não há contato com adversário. - Equilíbrio dinâmico com o momento certo de aplicar o golpe, em movimentações, esquivas e deslocamentos. - Controle do grau de velocidade: aplicação de golpes, arremessos, aplicação de contragolpes, desequilíbrios, deslocamentos e travar (inviabilizar ataque adversário com posicionamentos desfavoráveis). - Coordenação motora: aplicação de golpes, arremessos, desequilíbrios e deslocamentos. - Destreza manual: aplicação de golpes, arremessos, desequilíbrios e disputas de pegada (ato de segurar no judogui do adversário, uma das mãos na manga e outra na lapela).        - Força estática de mão e braço: “pegada”. - Orientação de resposta: aplicação de contragolpes e no tempo de aplicação do golpe. - Precisão de controle: no tempo de aplicação do golpe, precisão de golpe (encaixe e arremesso) e deslocamentos. - Tempo de reação: aplicação de golpes, aplicação de contragolpes e travar. - Velocidade de movimento de braço: preparações de golpes, disputas de pegada. – Agilidade: disputas de pegada, movimentações e entradas de golpes. - Resistência cardiorrespiratória: para aguentar o tempo de disputa das lutas. – Força explosiva: para aplicar os golpes. Contudo, devemos observar que, muitas dessas capacidades físicas são treinadas no modelo tradicional de forma isolada, ao qual acarretam em lesões e esse de fadiga nos atletas, prejudicando a sua performance.

 

PERIODIZAÇÃO ESPORTIVA

 

Periodização é a divisão da temporada de preparação em períodos e etapas de treino com objetivos, orientações e características particulares, o que implica a definição de procedimentos e orientações de treinos específicos, uma vez que influi de forma decisiva na organização e estruturação do treino, sempre respeitando os princípios do treinamento físico somados ao tempo de recuperação divisão do processo de treinamento (MONTEIRO & EVANGELISTA, 2015).

Segundo Monteiro e Evangelista (2015), o período de preparação é o momento para desenvolver as condições necessárias a uma boa participação esportiva. O período competitivo é aquele que o atleta estando em forma deve produzir os melhores resultados. E o período de transição destina-se a administrar a queda da forma, como condição necessária à aquisição de uma nova forma em condições mais elevadas. Este processo de planejamento é muito importante para conseguir desenvolver performance nos atletas.

No treinamento funcional a maneira como são estruturadas as capacidades biomotoras, é necessário um ordenamento das interações complexas de cada capacidade, agregando aprendizagem do movimento, propriocepção e core com orientações de cargas distintas, sendo interessante colocar nas sessões de treinamentos orientações seletivas que visa solucionar determinada tarefa e as orientações complexas por meios de treinos, concretizar mais de uma tarefa, observando a escolha dos exercícios, ordem sequencial, força aplicada, velocidade aplicada, tipos de contrações musculares, número de séries, número de repetições, tempo de pausa entre séries, tempo de pausa entre exercícios e o tipo de equipamento (PLATONOV, 2008; ZATSIORSKY & KRAEMER, 2008; BOSSI, 2011; BOMPA & HAFF, 2012; TEIXEIRA & GUEDES JR, 2014; RATAMESS, 2015 ; BOYLE, 2015 apud VRETAROS, 2016).

Segundo Vretaros (2016), o treinamento funcional deve sempre visar à qualidade e quando necessário sofre adequações para buscar respostas condizentes com os objetivos traçados ao longo do treinamento no microciclo, mesociclo e macrociclo, aplicando os princípios da variabilidade, evitando longos períodos a uma mesma estratégia de recursos metodológicos, que implicará no interrompendo os avanços na performance do atleta.

Segundo Bompa & Haff (2012 apud VRETAROS, 2016), o treinamento funcional deve ter sessões de treinamentos com estruturação em grupos, onde atletas que são divididos em pequenos grupos de supervisão da mesma modalidade, sessões individualizadas com somente um atleta de uma modalidade, sessões mistas com atletas de várias modalidades com supervisão individual e as sessões livres, onde os atletas tem a liberdade de realizar treino sem supervisão. Isso que o autor diz, é um fator de extrema importância para desenvolver performance em atletas de judô.

 

Treinamento Funcional para desenvolver performance no Judô.

 

Segundo Pinto et al. (2009), o desejo das conquistas das medalhas é a principal motivação para os atletas do judô, ao qual se perde um pouco da essência, sendo que o judoca deveria buscar o aperfeiçoamento integral e não apenas pela busca do resultado da performance atlética. A essência dos valores da modalidade foi se perdendo com o passar do tempo, muito dos valores mudaram impostos pelo esporte moderno, contudo existem várias academias que mantem todos os valores e princípios do judô.

O treinamento funcional possui exercícios integrados para alcançar movimentos mais eficientes atendendo os aspectos da especificidade, é um treinamento flexível e ilimitado com a liberdade de execução dos movimentos, podendo utilizar movimentos de várias modalidades ou somente de uma especifica com infinitas variações, trabalhando ao mesmo tempo diversas capacidades físicas e possibilita realizar os exercícios em múltiplos planos requerendo aceleração, desaceleração e estabilização dinâmica para permitir uma eficiência neuromuscular e performance (MONTEIRO & EVANGELISTA, 2015).

Segundo Ribeiro (2006), o treinamento funcional torna a performance acessível a todos as pessoas, condicionando o individuo de forma plena a força, velocidade, equilíbrio, resistência, coordenação e flexibilidade, melhorando o condicionamento físico e a saúde em geral.

Segundo Silva (2011), o treinamento funcional treina movimentos e não somente músculos, com a utilização de exercícios multiarticulares e multiplanares, envolvimento proprioceptivo, criando uma sinergia entre os segmentos corporais, sendo que possibilita a execução com amplitude. Conforme o que o autor diz, esta é a grande diferença entre o treinamento funcional quando comparado com os treinamentos tradicionais.

Para elaboração dos programas de treinamento funcional de uma determinada modalidade esportiva, os profissionais de Educação Física necessitam avaliar as necessidades individuais do atleta e da modalidade que pratica, para ter conhecimento das lesões da modalidade e suas demandas metabólicas e biomecânica, sempre com os dados iniciais e testes específicos visando a desenvolver performance. Com a melhora no condicionamento físico, o atleta ampliará a possibilidade de ganhos nos aspectos técnicos, táticos e psicológicos melhorando o desempenho dos atletas (VRETAROS, 2016).

Segundo Vretaros (2016), na pré-temporada com a utilização do treinamento funcional deve privilegiar o desenvolvimento da aprendizagem do movimento, propriocepção e core, criando hábitos mais eficientes e prevenir surgimento de lesões musculoesqueléticas na temporada, sendo que as capacidades biomotoras também devem ser trabalhadas numa escala menor, utilizando os momentos de treinos técnicos e táticos da modalidade para fazer um trabalho em conjunto com as capacidades biomotoras. Quando a temporada evoluir e se aproximar as competições, deve se reduzir significativamente a aprendizagem dos movimentos, e utilizar exercícios inovadores, ou anteriores que o atleta demonstrou ter dificuldades de executar motoramente. Os atletas que sofreram lesões podem retornar ao treinamento funcional com aprendizagem do movimento. O profissional de Educação Física tem que está atento no percorrer da temporada em fazer as alterações e enfatizar as variáveis. Conforme o que o autor diz, a estruturação do treinamento desde a pré-temporada favorece o desempenho elevado do atleta no período competitivo e auxilia na prevenção de lesões.

Segundo Tani (2008), os exercícios funcionais provocam restrições do organismo e da tarefa nos seus praticantes, onde o comportamento motor é influenciado por elas, que podem levar modificações qualitativas no padrão de coordenação, exercendo efeitos conforme a lógica do executante. Essas restrições podem ter um efeito transitório com pouco tempo e retornando ao padrão anterior, ou pode ser duradouro dando origem ao um novo padrão que será mantido mesmo que a restrição seja tirada ou modificada. Assim conforme o autor este processo é complexo que favorece a aquisição de novas habilidades motoras, justificando que o treinamento funcional é eficiente para desenvolver performance.

O estudo Dahlberg e Roos (2009 apud SILVA, 2011), em pacientes de meia-idade pós menissectomia, houve efeito positivo na performance funcional assim como força e resistência dos músculos da coxa com 4 meses  de programa de exercícios funcionais. O estudo de Vreede et al (2005 apud SILVA, 2011), conclui que os exercícios funcionais foram mais eficientes do que exercícios físicos resistidos tradicionais para o aprimoramento da performance em idosos saudáveis. Conforme o autor, o exercícios funcionais melhoram a performance no processo de recuperação das pessoas, por isso é utilizado pelos profissionais de Fisioterapia, os profissionais de Educação Física vendo os resultados desses processos de recuperação, aplicaram estes conceitos tornando o treinamento eficiente.

Segundo o estudo de Detanico (2014), que investigou os efeitos agudos das lutas e das sessões de treinamento de Judô em indicadores de fadiga e dano muscular, concluir que as sequencias de lutas provocam fadigas nos membros superiores e inferiores dos judocas a partir da segunda luta, que é comprovado com a redução do torque de rotação interna e externa do ombro, além disso, observou  a redução na altura do salto vertical. Foram observadas também os danos na musculatura esquelética após a terceira luta, com o aumento das enzimas CK e LDH. Estes resultados trazem importantes contribuições para os profissionais de Educação Física que trabalham com a preparação física desses atletas, alertando para a necessidade de um trabalho especifico.   

O estudo de Detanico (2014), também relatou à conclusão que as sessões de treinamento foram observadas a moderada taxa de participação do metabolismo glicolítico e percepção subjetiva de esforço elevada, o aumento da concentração de enzimas CK, percepção de dor tardia, diminuição da percepção de recuperação 48h pós-treino e a redução da altura do salto vertical 48h após a sessão de treino, comprovando assim, danos na musculatura dos membros inferiores, recomendando para os preparadores físicos uma maior atenção na carga de treinos dos membros inferiores, sendo que as ações musculares nos treinos específicos de Judô ocorrem de forma excêntrica, aos quais causam maiores danos estruturais. As investigações do autor comprova que os atletas têm lesões na musculatura esquelética e fadiga durante a luta nas competições e nas sessões de treinos com a utilização do treinamento tradicional, o treinamento funcional é uma excelente ferramenta para a preparação física desses atletas.  

Segundo Silva (2011), na sessão de treino com exercícios funcionais que tem a presença da bola, é um elemento motivador para a prática do exercício físico, pois a bola é um elemento lúdico que nos lembrar da época da infância, sua utilização nos exercícios auxiliam em inúmeras capacidades e qualidades físicas que podem ser trabalhadas, portanto concluir que o treinamento funcional estimula mais a motivação do aluno em permanecer nas atividades, em comparação com o treino tradicional. 

 

DISCUSSÃO

O treinamento de judô realizado de forma tradicional foi observado que não atende todas as necessidades na preparação dos atletas de judô. De acordo com o que foi pesquisado na literatura, os atletas de Judô realizam varias lutas em um único dia de competição, conforme foi citado no estudo de Detanico (2014), após a realização da segunda luta, provocam danos na musculatura esquelética, redução na altura do salto vertical e excesso de fadigas nos membros superiores e inferiores. Este estudo comprova o déficit na preparação física dos atletas de judô com o treinamento tradicional.

Outro estudo levantado pelo o mesmo autor, que fala sobre as sessões de treinamento de judô, foi observação nos excessos da sessão de treino com percepção subjetiva de esforço elevada por pelos atletas que relataram a diminuição na percepção de recuperação após 48h. Esse fato demanda uma adequação do treino por parte dos responsáveis.

Outros fatores importantes levantados neste estudo foi o fato dos exercícios funcionais serem os mais indicados para a melhora na musculatura estabilizadora do corpo, o auxilio para manter o corpo saudável e o auxilio eficiente na recuperação de atletas lesionados.    

De acordo com nossa pesquisa podemos observar que o treinamento funcional consegue desenvolver a performance com mais eficiente, pois suas características motivacionais e como trabalha varias capacidades físicas no mesmo exercício, consegue supri o déficit apontado no treinamento tradicional, sendo mais indicado para a preparação física dos atletas de alto rendimento de judô.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O judô segue o mesmo modelo de treinamento tradicional desde a sua reformulação em 1882, pelo mestre Jigoro Kano, algo que foi constado nesta revisão literária com o estudo que comprova o dano muscular e fadiga nos membros superiores e inferiores na sessão de treino e nas competições, por falta de uma preparação especifica.

Os treinamentos de judô ainda são exclusivos em muitos locais que não possuem uma infraestrutura adequada para atender todas as necessidades dos atletas, sendo focado a sua realização dentro dos dojos com o jogo de tatames de espumas prensadas, em muitos locais esses dojos são pequenos devido à falta de espaço. Vários exercícios são praticados de forma isolada, trabalhando somente uma capacidade física, sendo que a modalidade demanda a interação das capacidades, pois as lutas são dinâmicas onde os atletas sempre estão em busca da aplicação da técnica que terá a vitória sobre o oponente (ippon).     

A performance do gesto esportivo depende principalmente das capacidades física, os atletas de judô são submetidos ao número elevado de lutas numa competição e suas respectivas duração e intervalos são aleatórios, demandam de uma preparação especifica e que englobe todas as necessidades durante o período competitivo.

O treinamento funcional é considerado integrado onde trabalha o movimento com varias capacidades no mesmo exercício, flexível e ilimitado, trabalha os aspectos da especificidade e dentro do que foi levado nesta revisão literária, é uma excelente ferramenta para os profissionais de Educação Física que trabalham com a preparação física dos atletas de judô, para desenvolver performance com a possibilidade de trabalho individualizado para cada atleta, ou um trabalho para o grupo.

Traz para a modalidade esportiva um leque de opções de exercícios, que podem ser utilizados na sessão de treinamento, seus equipamento não demandam muito espaço para serem guardados e quando necessário for utilizados, se encaixam muito bem dentro da realidade dos locais de aperfeiçoamento do judô, e o custo não é tão elevado quando comparado com uma sala com equipamentos de musculação.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BAPTISTA, C. F. S. Judô: da escola à competição. 3ª edição. Editora Sprint, p. 63-83, Rio de Janeiro, 2003.

CARVALHO, M. C. G. A. & DRIGO, A. J. O Judô dentro do contexto regulamentação da Educação Física. Revista Digital EFDEPORTES.COM, ano 11, n° 106, Buenos Aires, Março de 2007.

DETANICO, D. Efeitos agudos das lutas e da sessão de treino de Judô em indicadores de fadiga e dano muscular. UFSC, Florianópolis, 2014.

FOFONKA, E. B. Perfil da Aptidão Física de Atletas Iniciantes Praticantes de Judô. UFRGS, Porto Alegre, 2016.

MARTINS, C. J. & KANASHIRO, C. Bujustu, Budô, esportes de luta. Revista Motriz, Rio Claro, v.16 n.3 p.638-648, 2010.

MONTEIRO, A. G. & EVANGELISTA, A. L. Treinamento funcional: Uma abordagem prática. 3ª edição. Editora Phorte, p. 15-200, São Paulo, 2015.

PINTO, D. C. C.; CARVALHO, R. A.; BARBOSA, S. S. R. & ALVES, M. V. P. Judô: Caminho suave ou caminho da vitória? Arte marcial que se esportivizou ou esporte que se tornou arte marcial? XII Simpósio Internacional Processo Civilizador. Recife, 2009.

KANO, J. Energia Mental e Física. Escritos do Fundador do Judô. Editora Pensamento-Cultrix, p. 13-117, São Paulo, 2008

RIBEIRO, A. P. F. A eficiência da especificidade do treinamento funcional resistido. UNIFMU, São Paulo, 2006.

SILVA, L. X. V. Revisão de literatura acerca do treinamento funcional resistido e seus aspectos motivacionais em alunos de personal training. UFRGS, Porto Alegre, 2011.

STEVENS, J. Três mestres do Budo: Kano (Judô), Funakoshi (Karatê) e Ueshiba (Aikido). Editora Pensamento-Cultrix, p.13-49, São Paulo, 2007.

TANI, G. Comportamento motor: aprendizagem e desenvolvimento. Editora Guanabara, p. 163-283, Rio de Janeiro, 2008.

VRETAROS, A. Treinamento funcional nos esportes: algumas considerações metodológicas. UNIFESP, São Paulo, 2016. 

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×