05/06/2018

Treinamento Resistido e Treinamento Funcional para indivíduos com dor lombar

Treinamento Resistido e Treinamento Funcional para indivíduos com dor lombar

Beatriz Gomes de Oliveira, Darlan Passos Martins, Edson Mauricio da Silva, Fernando Mateus Teixeira, Gilson Frigo Junior, Marcus Antunes Figueredo, Ana Carolina Siqueira Zuntini

RESUMO

As dores lombares acometem cerca de 80% da população e se constituem em uma das maiores causas de afastamentos laborais no mundo todo. Os tratamentos convencionais se constituem em importante recurso para a reabilitação, assim como a prática de exercícios físicos regulares. O presente estudo abordou os treinamentos funcional e resistido (musculação) e seu impacto em indivíduos com dores lombares. Participaram do estudo 16 voluntários com dores lombares (8 em cada grupo), avaliados quanto aos índices de dor, flexibilidade, força e resistência musculares, antes e depois do treinamento. Os resultados encontrados mostraram que os treinamentos reduziram as dores e melhoraram a flexibilidade, a força e a resistência musculares.

Palavras-chave: Exercícios Físicos; Dor Lombar; Força Muscular

ABSTRACT

Low back pain affects about 80% of the population and is one of the biggest causes of work-related disability worldwide. Conventional treatments are an important resource for rehabilitation, as well as regular physical exercise. The present study addressed functional and resistance training (bodybuilding) and its impact on individuals with low back pain. Participants of the study were 16 volunteers with lumbar pain (8 in each group) who were evaluated for muscle pain, flexibility, strength and endurance levels before and after training. The results showed that training reduced pain and improved muscle flexibility, strength and endurance.

Keywords: Physical Exercises; Low Back Pain; Muscle Strength

INTRODUÇÃO

Em todo mundo e também no Brasil, a lombalgia é a principal causa de incapacidades (MEZIAT-FILHO, SILVA, 2011). Essa é uma disfunção que acomete ambos os sexos, podendo variar de uma dor súbita à dor intensa e prolongada, geralmente de curta duração, porém com padrão de recorrência em 30% a 60% dos casos quando relacionados ao trabalho (BRIGANÓ; MACEDO, 2005). Vale salientar que a frequência de dor lombar na população em geral é alta e que esse número tende a aumentar com o envelhecimento natural (JONES, MACFARLANE, 2005). Apesar de numerosas causas e fatores de risco que estão relacionados com a lombalgia, vários pesquisadores a caracterizam como uma doença de pessoas com vida sedentária; a inatividade física estaria relacionada direta ou indiretamente com dores na coluna; a maior parte da atenção dirige-se a considerá-la um subproduto da combinação da aptidão musculoesquelética deficiente e uma ocupação que force essa região (NIEMAN, 1999; SANTOS, 1996). A prática de atividades físicas na prevenção e reabilitação de lombalgias estabelece uma relação positiva já defendida por Hipócrates, quando o mesmo reconhecia o valor dos exercícios físicos para o fortalecimento dos músculos enfraquecidos. Vislumbra-se o exercício como potencial ferramenta no que diz respeito às questões de saúde pública, notadamente pela prevenção de agravos e pela redução do custo de tratamentos. A educação física pode contribuir de forma importante na prevenção de síndromes dolorosas na coluna por proporcionar, através de programas de força e flexibilidade, maior conscientização da postura (KISNER, COLBY. 1992). Dentre os diversos tipos de exercícios físicos o treinamento resistido, mais comumente chamado de “Musculação”, é considerado um componente essencial de um programa de aptidão física, abrangendo o desenvolvimento e a manutenção da força, resistência e massa muscular (GRAVES; FRANKLIN, 2006). Segundo Socorro et al. (2008), o exercício físico está intimamente relacionado com a qualidade de vida da população e a musculação vem crescendo em todas as faixas etárias como um meio de prevenção de diversas doenças. O treinamento funcional é uma das formas de treinamento mais divulgadas e praticadas atualmente no Brasil e no mundo. Confirmando essa realidade, pesquisa que elenca as vinte principais tendências mundiais de mercado no segmento fitness aponta o treinamento funcional como forte tendência desde o ano de 2007. O treinamento funcional faz com que a performance possa ser acessível a qualquer pessoa, não somente a atletas, condicionando plenamente todas as capacidades físicas (força, velocidade, equilíbrio, coordenação, flexibilidade e resistência) (RIBEIRO, 2006). Para que uma pessoa se movimente de maneira eficiente contra a ação da gravidade, ela deve possuir amplitude de movimento, mobilidade articular, força, e resistência muscular bem como a habilidade de coordenar os movimentos (CAMPOS, NETO, 2004). Sendo assim, força muscular, condicionamento cardiorrespiratório, flexibilidade, equilíbrio, agilidade, velocidade e coordenação são capacidades fundamentais e devem ser contempladas em um programa de treinamento funcional (GIANONI, 2011).

OBJETIVO

O presente artigo tem como objetivo fazer um estudo dos benefícios dos treinamentos funcional e resistido para pessoas com dor lombar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

                As tabelas 1 e 2 mostram os dados antropométricos dos grupos Treinamento Funcional (TF) e Treinamento Resistido (TR). Na média, os voluntários do grupo TR eram mais velhos e tinham menores massa corporal e IMC. As estaturas médias dos dois grupos estavam muito similares.

Tabela 1. Dados antropométricos – grupo TF

 

IDADE

MASSA

ESTATURA

IMC

1

51

77

1,63

28,98

2

28

67

1,65

24,61

3

26

77

1,6

30,08

4

24

69

1,57

27,99

5

17

56

1,55

23,31

6

21

69

1,66

25,04

7

23

88

1,74

29,07

8

32

80

1,62

30,48

MÉDIA

27,75

72,88

1,63

27,45

ERRO PADRÃO

3,68

3,44

0,02

0,97

Idade em anos, massa em quilogramas (Kg), estatura em metros (m) e Índice de Massa Corporal (IMC) em quilogramas/metro quadrado (Kg/m2).

Tabela 2. Dados antropométricos – grupo TR

 

IDADE

MASSA

ESTATURA

IMC

1

56

64

1,68

22,68

2

31

79

1,74

26,09

3

27

52

1,55

21,64

4

21

77

1,76

24,86

5

53

79

1,69

27,66

6

23

67

1,65

24,61

7

25

60

1,67

21,51

8

25

67

1,66

24,31

MÉDIA

32,63

68,13

1,68

24,17

ERRO PADRÃO

4,17

2,93

0,02

0,65

Idade em anos, massa em quilogramas (Kg), estatura em metros (m) e Índice de Massa Corporal (IMC) em quilogramas/metro quadrado (Kg/m2).

                Após a compilação dos escores de todos os testes avaliados, a comparação intragrupos dos resultados iniciais e finais foi realizada por meio do test t de Student para amostras pareadas, utilizando-se o software GraphPad Prism 7.0. Foram consideradas significativas as diferenças de p < 0,05.

                A incapacidade funcional, avaliada pela escala de Roland-Morris (tabela 3), e os níveis de dor, avaliados pela escala visual analógica (EVA) (tabela 4), apresentaram-se reduzidos, para ambos os grupos, após o período de treinamento. Embora as diferenças tenham sido significativas apenas para a EVA do grupo TR, os dois tipos de treinamento foram benéficos para redução das dores lombares e da incapacidade associada à dor.

Tabela 3. Comparação Escala de Roland-Morris

 

 

TR

TF

 

INICIAL

FINAL

INICIAL

FINAL

1

0

0

5

3

2

0

0

3

1

3

0

0

8

5

4

0

0

2

1

5

2

0

11

3

6

0

0

1

0

7

0

0

0

2

8

0

0

6

3

MÉDIA

0,25

0,00

4,50

2,25

ERRO PADRÃO

0,21

0,00

1,32

0,56

p-valor

ns

ns

Escala de Roland-Morris representada em número de respostas positivas.

Tabela 4. Comparação Escala Visual Analógica

 

 

TF

TR

 

INICIAL

FINAL

INICIAL

FINAL

1

4,00

3,00

5,00

3,00

2

4,00

3,00

4,00

2,00

3

7,00

5,00

4,00

1,00

4

3,00

3,00

4,00

2,00

5

5,00

7,00

7,00

2,00

6

5,00

2,00

5,00

2,00

7

4,00

3,00

6,00

3,00

8

5,00

4,00

6,00

3,00

MÉDIA

4,63

3,75

5,13

2,25

ERRO PADRÃO

0,42

0,56

0,34

0,21

p-valor

ns

< 0,0001

Escala Visual Analógica representada por valor absoluto.

                         O encurtamento da cadeia posterior, avaliado pelos testes do terceiro dedo ao chão (tabela 5), do ângulo coxofemoral (tabela 6) e de sentar e alcançar (tabela 8), e a flexibilidade da coluna vertebral, avaliada pelos testes de Schober e Stibor (tabela 7), apresentaram diferenças significativas nas avaliações finais, exceto para o ângulo coxofemoral do grupo TF e do teste de Schober do grupo TR. Tais resultados indicam que os dois tipos de treinamento contribuíram para a conquista de maior flexibilidade e para redução dos encurtamentos musculares.   

Tabela 5. Comparação Teste Terceiro Dedo ao Chão

 

 

TF

TR

 

INICIAL

FINAL

INICIAL

FINAL

1

17

13

10

8

2

12

8

9

1

3

13

8

0

0

4

8

5

3

0

5

17

5

11

4

6

6

4

0

0

7

13

8

10

3

8

11

5

2

0

MÉDIA

12,13

7,00

5,63

2,00

ERRO PADRÃO

1,37

1,04

1,45

0,87

p-valor

0,0021

0,016

Valores apresentados em centímetros

Tabela 6. Comparação Ângulo Coxofemoral

 

 

TF

TR

 

INICIAL

FINAL

INICIAL

FINAL

1

115

101

112

110

2

115

101

105

105

3

98

96

110

105

4

105

98

105

100

5

110

120

115

105

6

91

88

100

100

7

115

108

113

110

8

100

90

115

110

MÉDIA

106,13

100,25

109,38

105,63

ERRO PADRÃO

3,23

3,61

1,65

1,26

p-valor

ns

0,0145

Valores apresentados em graus

Tabela 7. Comparação Testes de Schober e Stibor

         

 

SCHOBER

STIBOR

 

TF

TR

TF

TR

 

INICIAL

FINAL

INICIAL

FINAL

INICIAL

FINAL

INICIAL

FINAL

1

3

5

7,3

5,5

7

10

9,5

9

2

6

7

7

7

7

10

6,5

8

3

6

6

6,5

7,5

4

8

7

8

4

4

6

6

7,5

4

9

7,5

9

5

7

7

3

5

11

11

8

10

6

4

7

6

6

9

11

4

5

7

3

5

6

6,5

5

8

7

8

8

4

6

5

6,5

8

11

7,5

8

MÉDIA

4,63

6,13

5,85

6,44

6,88

9,75

7,13

8,13

ERRO PADRÃO

0,53

0,30

0,41

0,27

0,88

0,45

0,47

0,44

p-valor

0,0054

Ns

0,0008

0,0072

Valores apresentados em centímetros

Tabela 8. Comparação Teste de Sentar e Alcançar

 

 

TF

TR

 

INICIAL

FINAL

INICIAL

FINAL

1

25

28

31

32

2

25

28

22

31

3

20

24

40

44

4

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