16/02/2011

Universidade Federal de Goiás e Incra formam primeira turma de Pedagogia da Terra

O meio rural brasileiro contará, em 2011, com novos educadores de nível superior. A primeira turma do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Terra da Universidade Federal de Goiás (UFG), formada por 60 profissionais de educação do campo atuantes nas áreas de reforma agrária do País, colará grau no dia 21 de fevereiro, às 19h, no auditório da Faculdade de Educação, no setor Universitário, em Goiânia.

Os estudantes são oriundos de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo, Rondônia e Distrito Federal. Todos tiveram a graduação custeada pelo Incra/GO, por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), em parceria com a UFG e a Via Campesina do Estado de Goiás. O investimento do Programa ao longo do curso foi de R$ 1,2 milhão, e o custo anual por aluno de R$ 4,5 mil, destinados à manutenção do quadro de pessoal, material didático, alimentação e transporte dos estudantes, entre outros.

Para comemorar a formatura e os avanços do Pronera em Goiás, será realizado também um Seminário sobre Educação do Campo. O superintendente do Incra/GO, Rogério Arantes, participará da atividade, cuja abertura ocorrerá no dia 15, às 19h30, na Faculdade de Educação da UFG, na Praça Universitária.

Mudanças no ensino

Antônio Carlos Ruas Rocha (26), agricultor que mora na Comunidade de Jerusalém, em Carlinda (MT), é um dos formandos. Ele frisa que a graduação em Pedagogia da Terra ampliou muito sua visão de mundo. "Ressalto que, além de conhecer melhor o pensamento de autores da Pedagogia, Filosofia e Sociologia, meu grande aprendizado foi perceber que não é preciso viver na cidade para ter bom emprego e realização profissional. Podemos nos tornar orgulhosos dos nossos ofícios na terra", diz.

O resgate e a valorização da identidade do jovem do campo foi tema presente na monografia dele, que levantou a seguinte indagação sobre a instituição em que estudou nos primeiros anos de vida: "A Escola Rural Joaquim Nabuco, em Carlinda, contribui ou não para a manutenção do jovem no campo?". A conclusão do acadêmico, embasada em pesquisa quantitativa realizada com jovens entre 15 e 20 anos, foi a de que não contribui. "Percebi que, assim como na época em que estudei nesta escola, as aulas continuam voltadas para a vida da cidade grande. A forma de ensinar não mudou, ainda tem como foco o livro didático com gravuras de prédios e praias, imagens típicas dos grandes centros", observa.

Ele, que já recebeu convite para ser professor na Escola Estadual Frei Caneca, também em Carlinda, defende mudanças em sala de aula. "É possível ensinar as operações matemáticas - soma, subtração, multiplicação e divisão - utilizando, por exemplo, grãos. Se eu mostrar que dois caroços de feijão somados a mais dois de arroz resultam em quatro grãos, o aluno visualiza melhor e se lembra por mais tempo do exemplo porque ele está próximo da sua realidade", explica.

Laurentina Aparecida dos Santos (42), agricultora do assentamento Andalucia, em Nioaque (MS), é outra graduanda. O curso de Pedagogia da Terra despertou na estudante o interesse pela educação inclusiva no meio rural. "Além de continuar com minhas atividades de educadora popular, vou me dedicar, no assentamento onde vivo e na minha região, às atividades direcionadas aos alunos com necessidades educacionais em função de problemas auditivos, visuais, físicos e até mesmo de aprendizado", relata. O assentamento Andalucia, assim como outros do Mato Grosso do Sul, terá salas multifuncionais para atender às necessidades desses alunos. "Além do diploma acadêmico, tenho mais esta conquista a comemorar: a expansão da educação inclusiva", diz.

Pedagogia da Terra

Os novos pedagogos cumpriram nove módulos elaborados observando a grade curricular da graduação convencional em Pedagogia e agregando temáticas referentes à realidade dos assentamentos (meio ambiente, produção agrícola...). As aulas ocorreram na Faculdade de Educação da UFG e as atividades práticas, como estágios, nos assentamentos da reforma agrária onde os estudantes residem. O curso de Pedagogia da Terra é ministrado em dez universidades brasileiras. Entre elas, as universidades de São Paulo (USP), de Brasília (UnB) e de Campinas (Unicamp), além da UFG.

A seleção dos estudantes ocorreu por meio de vestibular do qual participaram trabalhadores do campo de vários estados do País. A graduação em Pedagogia da Terra tem o objetivo de formar professores para atuar nas escolas dos assentamentos criados pelo Programa Nacional de Reforma Agrária do Governo Federal. Com estrutura diferenciada, a licenciatura teve módulos presenciais (tempo escola) e não presenciais (tempo comunidade).

O diploma expedido pela UFG aos alunos será em Licenciatura em Educação Básica do Campo: Pedagogia da Terra, com atuação interdisciplinar nos ensinos fundamental e médio. Durante o curso, os alunos optaram por uma área de atuação - Língua, Artes e Literatura; Ciências Sociais e Humanidades; Ciências da Vida e da Natureza; e Matemática.

(Envolverde/Incra)

 
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